VII – O cheiro dos dias
Lentamente janeiro se foi. Fiquei presa no ‘casarão dos Gonçalves’ durante toda férias. Aceitavelmente não quiz mais voltar a vila, fiquei ainda mais estranha, se é que é possivel... Não falava, não sorria. Estava ali na varanda todos os fins de tarde, somente respirando.
Na madrugada do dia 02 de fevereiro o sonho repentino com a bruxa foi diferente, e pior. Havia uma luz enorme do meu lado, incandescente, não pude olhar nem enxergar um rosto, mas eu sabia que aquilo olhava para mim. Era pertubador. Acordei me revirando na cama, senti um calor de 40° e notei que pingava de suor. Estava sentada na cama ofegando como se tivesse corrido quilômetros de distância sem parar; Foi então que começou denovo aquele o perfume de rosas. Já faziam duas semanas sem senti-lo. Fechei os olhos me drogando daquela mágia irresistivel, e senti o cheiro ir direto no meu estômago como uma facada cortante. Corri no banheiro, e vomitei.
Estava doente ou louca?
Não sei, mas o fato é que o cheiro foi embora junto com a febre ali mesmo no vaso sanitário. Eu me arrastei pelo chão até a minha cama, totalmente mórbida. Dormi.
Era 02 de fevereiro, primeiro dia de aula. Eu estava anciosa por aquele dia, tinha desistido de ir com minha mãe até a escola, porque não queria ter que passar pela vila novamente. Mas Manoel havia me dito que a escola era agradável, com uma biblioteca grande, laboratório, enfim, tudo o que eu precisava para ocupar minha cabeça. Abri os olhos devagar, minha cabeça latejava com força, percebi que o colchão não estava fofo como de costume e me virei. Estava no chão! Que lastima, eu havia dormido no chão. Então me recordei da madrugada passada, provavelmente não tinha conseguido levantar para deitar na cama. Fiquei ali calculando toda essa façanha. O espaço entre a cômoda e a cama, era de uns 50 cetímetros, minha cabeça estava bem ali no meio, virada para a cômoda. Resolvi levantar depois de uns cinco minutos. Virei para a cama buscando apoio no colchão. Então eu vi:
- P I E T R O
Eu li, aquele rabiscado de criança no pé da cama com letras grandes, escritas com tinta azul. Eu estava me perguntando quem era Pietro, quando minha mãe entrou.
- O que você tá no fazendo no chão querida?
Olhei pra ela ainda pensando no nome estranho e falei:
- Eu cai da cama. Não foi muito confortante.
Demos um a pausa enquanto ela pensava em como eu tinha conseguido cair da cama; ela ia mandar que eu me arrumasse eu tive certeza, então antes que ela abrisse a boca eu falei:
- Quem é Pietro?
Ela me olhou confusa:
- Eu não sei... Porque?
Fiquei calada, mas ia apontar pro pé da cama. Minha mãe foi mais rápida, e antes que eu pudesse me mexer mandou que eu me arrumasse depressa, porque a escola ficava do outro lado da vila, tinhamos muito chão pela frente. E saiu.

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