I - O “quem sou eu”:
Me chamo Olga Benário Gonçalves da Costa. É um nome estranho eu sei. Quando me apresento todos me olham isquisitos. Foi meu pai quem quis fazer essa homenagem a militante comunista alemã. Você deve saber quem é. Era uma guerreira como ele sempre quis que eu me tornasse. Não sei se de onde ele está pode ver o que sou agora, mas espero que não dê.
Meu pai era um homem bom, certa vez entrou no ônibus pra ir ao trabalho e não voltou. Um acidente no caminho impediu que ele voltasse. Antes disso, há dezessete anos ele estava a todo pique puxando minha mãe pela mão, e fugindo do interior. Ele era só um jovem jornalista, romântico e com idéias demais. Encantador pra qualquer menina meiga que nunca viu um prédio. Marlene, a minha mãe, fugiu sem nem pensar duas vezes. Então num dia de inverno, eu nasci!Minha mãe decidiu ser missionária, saia todos os dias de porta em porta pra falar ‘do amor de Jesus’. Eu até ia com ela, achava inspirador e bonito as coisas que ela dizia. Mas naquele dia que o ônibus bateu tudo perdeu o sentido. Não acredito em nada pra ser bem sincera. Eu tinha tudo e era feliz, mas deixei de ser desde que meu herói se foi. Cinco anos se foram. Eu e minha mãe passamos a viver de um dinheiro que meu avô nos mandava todo mês, mesmo ele e dona Marlene se falando tão pouco por telefone. Eu não conheci meu avô. Por algum motivo nunca fomos visitá-lo. Não tinha curiosidade, eu morava numa cidade que tinha tudo o que eu precisava, pra que ir a um lugar distante, no meio do mato, conversar com um velho caduco? Desculpe-me se lhes pareço desesperadamente franca. È uma das minhas características. Sou sincera comigo mesma, com os outros eu não sei... Não tenho pra quem ser sincera.
Agora tenho dezessete anos, a vida me ensinou a ser fria. Não quero ser injusta, talvez nem tenha sido a vida, talvez tenha sido o acaso mesmo... Um maldito ônibus. Eu não chorei quando meu pai morreu, e nem depois. Não conseguia chorar pra fora, tudo ficou preso em mim, me sufocando. Por isso sou assim.
domingo, 18 de outubro de 2009
1º capítulo
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