domingo, 18 de outubro de 2009

IV- A herança

Quando desci do carro e me deparei com aquela casa eu quase cai pra trás. Era o paraíso! Como poderei descrever? Era uma mansão enorme. Meus olhos fitaram de cara a varanda no primeiro andar, que ficava bem em frente a todo o jardim.
- Aquele com certeza vai ser o meu quarto! – Eu disse provocando o sorriso da minha mãe. Uma simpática senhora correu pra abraça-la, e junto dela vinham um senhor e um garoto com mais ou menos a minha idade que ficou olhando para mim. O abraço da minha mãe e da senhora foi como de mãe e filha, as duas estavam com lágrimas nos olhos.
- Minha filha por onde você andou...? – Ela disse segurando o rosto de minha mãe e fitando-a bem de perto. Minha mãe abaixou a cabeça e abraçou-a chorando. Fiquei no mesmo lugar que estava até que ela me chamou e disse:
- Olga essa é a Dona Vânia a mulher que falou com você no telefone. Você sabe que minha mãe morreu no meu parto, desde então essa mulher aqui se tornou a mãe que eu nunca tive. Cumprimente-a. -
A senhora que se chamava Dona Vânia veio e me abraçou, um abraço forte como eu nunca havia sentindo e sorriu. Disse que estava ansiosa pra me conhecer, chamou seu marido e filho pra vir falar comigo. O marido era o Seu Paulo, um senhor carismático, baixinho, com uma barbinha rala, parecia ser uma boa pessoa, e o filho que era o garoto me olhando chamava-se Manuel, tinha 18 anos, era bonito, alto, usava óculos, foi um pouco acanhado comigo como se nunca tivesse visto uma garota antes. Fiquei calada o tempo todo, eu era assim. Inibida ou se preferir antipática. Não gosto de estranhos, nem de pessoas, elas são más e fingidas, tenho me afastado até da minha mãe.
Entramos na casa. Linda! Toda forrada em madeira, com objetos antigos e caros, muito bem dividida. Uma sala enorme, escritório, sala de janta, cozinha, isso tudo só no térreo. Em comparação com nossa antiga casa, era um castelo. Dona Vânia fazia de tudo pra que nos sentíssemos confortáveis, falou que tinha deixado tudo como estava desde que meu avô morreu. Que gentil ela era. Assim que abriu a porta do meu quarto eu gelei. Era lindo, ainda mais enorme que o outro. E a varanda nossa... Que paisagem maravilhosa. Tudo verde, não tinha uma só coisa que atrapalhasse aquela visão. Fiquei encantada em silêncio.
Logo nos levaram pra conhecer a fonte de toda a riqueza. A estufa onde meu avô trabalhava ficava afastada da casa, mas caminhando logo chegamos lá. Toda a vila dependia das flores que meu avô exportava para as cidades maiores, era um comércio mantido por nossa família desde a época do meu bisavô. Não entendia o porque saber daquilo só agora, mas estava tão surpresa que não havia espaço para as perguntas e respostas. Era lindo demais aquele galpão enorme, com aquelas pessoas trabalhando. Meu avô não era milionário como você provavelmente deve estar pensando, ele conseguiu juntar bastante dinheiro que o permitisse ter uma boa vida, só isso. Agora minha mãe era a única pessoa que poderia dar continuidade ao trabalho. Tios, primos, parentes? Não havia nenhum... Verdade! Meu avô teve apenas um irmão que morrera quando minha mãe ainda era adolescente, meu avô nunca quis saber de mais ninguém depois que a esposa morreu no parto. Pelo menos até onde eu fiquei sabendo;
Pela noite foi que me dei conta que estava no fim do mundo literalmente. Não tinha vizinhos, nem lanchonetes, nada por perto muito menos shopping pra dá uma conferida nos filmes. Se eu já era sozinha dessa vez iria morrer de tédio. Estava na cozinha vendo minha mãe e dona Vânia prepararem a janta, entediada com aquela conversa de gente velha.
- Não falou nada desde que chegou querida – Era a dona Vânia querendo me entrosar mais uma vez. Permaneci calada, levantei e sai.
Minha mãe deve ter ficado péssima com a minha atitude, mas é de se esperar. Ela me conhecia o bastante pra saber que não é de mim ‘falar’.
Fui pro meu novo quarto. Enfim sozinha, sentei na cama pra dá um tempo antes de começar a pôr as roupas no novo guarda-roupa... Mas quando vi, já era de manhã.

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